Por Márcio Balbino Cavalcante*
Há séculos, quando os primeiros colonizadores aportaram nas praias brasileiras, vislumbraram uma natureza prodigiosa. Florestas cobriam tamanhas extensões que pareciam não ter fim. Rios e milhares de espécies de peixes, aves e outros animais enchiam os olhos ávidos dos navegantes.
Locais de acumulação de areias quartzosas marinhas ou aluviais de largura dependente das marés e zona de contato do litoral com o mar, as praias brasileiras sempre impressionaram os diferentes grupos humanos que viveram e vivem em seu entorno. O Brasil tem mais de 1.500 praias, proporcionando um cenário rico em belezas naturais, paisagens paradisíacas quase inexploradas valorizadas por ricos patrimônios histórico-culturais, e que hoje são alvos da ação humana, caracterizando um espaço em transformação, fruto da urbanização e da atividade turística.
A geografia do litoral brasileiro
O Brasil é um país tropical, em que mais de 90% de seu território está concentrado ao norte do Trópico de Capricórnio, proporcionando grande variação climática e fitogeográfica. Além da nossa grande extensão territorial, cerca de 8.511.596,3 Km², o Brasil também possui um vasto litoral, banhado pelo Oceano Atlântico. Este litoral se estende desde a foz do Rio Oiapoque, no Amapá, até o Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul, numa extensão de 7.367 quilômetros. Entretanto, se considerarmos as reentrâncias e as saliências, ou seja, os recortes do litoral, a sua extensão pode chegar a mais de 9.000 quilômetros, apresentando uma gama de ecossistemas: campos de dunas, ilhas, recifes, costões rochosos, baías e falésias interagindo com a vegetação de Mata Atlântica, que na época da chegada dos portugueses, representava 15% do território nacional e que hoje está reduzido a apenas 7,2% da sua área original.
Espaço de contradição
A partir do inicio do século XX, o litoral passou a responder a necessidade de crescimento das atividades econômicas ligadas ao setor terciário moderno e à demanda de lazer das populações urbanas, pondo fim ao isolamento secular em que viviam as comunidades agro-pesqueiras.
A natureza agora é vista como espetáculo de riquezas a serem exploradas e vendidas, as paisagens naturais disputadas para serem transformadas em espaços de aluguel e áreas dos entornos das praias sendo vistas como pedaços de terras mais caros do lugar. A orla marítima dos nossos tempos, palco para grandes investidores financeiros, controlada por agências imobiliárias que segregam sócio-espacialmente as dinâmicas dos lugares, tornando a região uma idéia de poder e domínio econômico do capital.
Assim, em pouco tempo, as vilas de pescadores começaram a ser substituídas por casas de veraneio, e o pescador deixou seu oficio e vendeu suas terras. A especulação imobiliária tirou o hábitat, o sossego, a caiçara de palha de coco, o lugar do recreio e do trabalho do pescador. As suas embarcações deixaram de pescar para levar turistas a passeios ecoturísticos a praias distantes, verdadeiros paraísos ecológicos, agora próximos ao mundo civilizado e distante das comunidades tradicionais.
O preço da ocupação
A expansão excessiva das atividades turísticas ao longo do litoral vem desencadeando grandes transformações nas paisagens. Quando se trata do litoral brasileiro, o patrimônio turístico está sendo destruído de maneira acelerada e irresponsável. A velocidade dos empreendimentos transforma as paisagens naturais, o próprio produto turístico, em lugar não turístico, onde o turista torna-se refém de uma estrutura fechada intramuros, sem nenhuma identidade com lugar.
Nesse sentido, torna-se prudente lembrar que o estado deve exercer um papel importante no tocante ao planejamento e gerenciamento desses recursos, com o propósito de amenizar os impactos sobre os ecossistemas praianos, tais como: criação de empregos permanentes; maior divulgação das potencialidades naturais e culturais do litoral; estabelecimento de programas de educação ambiental; melhoramento da infra-estrutura e dos serviços existentes nas pequenas cidades (segurança, postos de saúde, transporte, pavimentação e iluminação das estradas, saneamento básico e limpeza das praias). Mas para que isso ocorra de maneira eficaz é preciso superar a visão meramente utilitária, de índole capitalista, e desenvolvê-las baseado em critérios ecologicamente sustentáveis.
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¹Artigo originalmente publicado na Revista Mundo Jovem, novembro de 2006. e no Portal do Meio Ambiente, em 06 de janeiro de 2009.
*Geógrafo pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB. Pós-graduado em Ciências Ambientais - FIP/PB. Pesquisador do Terra - Grupo de Pesquisa Urbana, Rural e Ambiental da UEPB/CNPq. cavalcantegeo@bol.com.br
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