Profº MsC. MÁRCIO BALBINO CAVALCANTE. Geógrafo - UEPB; Mestre em Geografia - UFRN e Especialista em Ciências Ambientais - FIP. - Cidade: João Pessoa, Paraiba - Brasil E-mail: marcio-balbino@hotmail.com SEJA BEM VINDO !!!
Domingo, 12 de Agosto de 2007
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DA ESCOLA À COMUNIDADE¹
 
 
Márcio Balbino Cavalcante; Professor graduado em geografia/UEPB
Filomena Mª G. da Silva Cordeiro Moita, Profª Drª UEPB
 
 
 
 
 
Introdução
 
 
            A natureza é a fonte de todos os recursos que necessitamos para viver. É um patrimônio que possibilita aos seres humanos uma vida saudável. À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para a satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos em função da tecnologia disponível, assim, agredindo o meio ambiente estamos iniciando um processo de destruição.
            Nos últimos séculos, um modelo de civilização se impôs, trazendo a industrialização, com sua forma de produção e organização do trabalho levando a necessidade de estimular o consumo. Para dar conta da produção em massa a economia capitalista teve de criar a sociedade de consumo.
            A propaganda entrou de sola para nos convencer de que mais importante do que “ser” é “ter”. Milhares de produtos chegam aos mercados diariamente, dos mais aos menos sofisticados, e num curto período outros produtos são lançados e suas vantagens e superioridades são apresentadas ao mercado.
            Para Scarlato & Pontin (1992,p.52),“Os habitantes da nova sociedade, principalmente aqueles das grandes concentrações urbanas, dispõem de uma gama muito variada de artigos de consumo, para isso, limitam-se a acrescentar pequenas modificações em modelos antigos, que são acondicionados em novas e atraentes embalagens”.
            A obsolescência tecnológica e a vida útil das mercadorias da revolução técnico – científica são quase tão velozes quanto à capacidade de comunicação dos tempos modernos. Com tremenda rapidez somos convidados a substituir artigos “velhos” por “novos”.
O que aconteceu com o meio ambiente
 
            O meio ambiente foi o primeiro a sofrer as conseqüências desta aceleração na produção e no consumo. Mas a sociedade humana, especialmente nas áreas urbanas, vivencia, diariamente, os efeitos do uso abusivo dos recursos naturais, na medida em que a produção e o consumo se aceleram e a produção de lixo se transforma num grande problema.
          Sabemos que vários avanços foram realizados para amenizar os problemas decorrentes do lixo, como a ordenação da deposição do lixo em áreas monitoradas, como os aterros sanitários, mas sua vida útil é curta, se considerarmos a capacidade de produção dos resíduos sólidos pela sociedade moderna. Além disso, o lixo produzido é recurso jogado, literalmente, fora, árvores derrubadas, minérios extraídos do subsolo, alimentos desperdiçados.
            O processo de decomposição da matéria orgânica tem início em poucas horas e os inorgânicos levarão até séculos para serem absorvidos pela a natureza.
            Parece-nos que uma solução bastante razoável, a partir da qual se leva em conta, ao menos, a redução do uso de recursos naturais e os problemas relativos ao destino do lixo, são a seleção e reaproveitamento de materiais.
            Em várias partes do mundo e em algumas localidades do Brasil a coleta seletiva é uma realidade. Com ela dá-se a determinados materiais um destino mais proveitoso e ecologicamente correto, a reciclagem, considerada a mais adequada, por razões ecológicas e econômicas (SCARLATO & PONTIN, 1992, p.58).
            O aproveitamento de latinhas de alumínio é conhecido por todos nós, muito embora a situação de pobreza de nossa população obrigue um enorme contingente de pessoas, inclusive crianças, a catá-las em condições inadequadas. Há também, projetos para o reaproveitamento de papel, embalagens pet, dentre outros que gradualmente ganham espaços na mídia e se difundem entre a população.
Segundo dados do IBGE (2000), 70% do lixo são destinados aos lixões e alagados, 20% são lançados diretamente nas vias públicas e apenas 5% são selecionados. Assim, 90% do lixo que é jogado não recebem tratamento adequado nos lixões.
            Considerado como uma forma mais antiga de disposição do lixo, o lixão se constitui a maneira mais usada no mundo e no Brasil, e vem trazendo cada vez mais inúmeros problemas ao meio ambiente entre eles o surgimento de maus odores e, principalmente a poluição do solo, das águas superficiais e subterrâneas através do chorume[1], além da proliferação de doenças através de vetores como: as moscas, mosquitos, baratas, ratos etc. que acarretam vários problemas à saúde da população.
 
A importância da Educação Ambiental
 
            Desde a Cúpula da Terra, realizada há dez anos no Rio de Janeiro, que a preocupação de escala internacional sobre a Educação Ambiental vem-se acentuando. Entidades ambientalistas profissionalizam-se, organizam-se e têm-se mostrado instituições com grande responsabilidade na preservação do planeta. No entanto tudo isso ainda é pouco. Apenas uma progressiva conscientização sobre a questão ambiental, uma mudança de mentalidade, aliada á busca de novas tecnologias, pode levar-nos a preservar o lugar em que vivemos. Diante dessa realidade, a Educação Ambiental vem sendo considerada cada vez mais urgente e de grande relevância para a sociedade atual. Preservação, conservação, desenvolvimento sustentável, qualidade de vida, são conceitos que devem fazer parte do nosso cotidiano.
 
A educação ambiental surge como objetivo de suprir uma necessidade de ação, entre missionária e utópica, destinada a reformular comportamentos humanos e recriar valores perdidos ou jamais alcançados (AB’SABER, 2000).
  
 
          Acreditamos que somente quando o cidadão se incluir e perceber seu espaço vivido na tão debatida questão ambiental é que começará a agir mais adequadamente. Neste caso, a escola tem grande contribuição a dar na construção da consciência ambiental, preparando futuros cidadãos a perceber este espaço e atuar sobre ele de forma mais consciente.                    
            Além disso, a criança e o jovem que estão na escola funcionam como agentes multiplicadores de atitudes, por assim dizer, ecologicamente correta. A escola deve funcionar como “laboratório” onde se pode sempre experimentar. A Educação Ambiental é necessária para alcançar tal objetivo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, estabelece:
 
A educação ambiental será considerada na concepção dos conteúdos curriculares nacionais de todos os níveis de ensino (...) implicará desenvolvimento de hábitos e atitudes sadias de conservação ambiental e respeito à natureza a partir do cotidiano a vida escolar e da sociedade.
  
         Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s (Meio Ambiente/Saúde), de 1997, estabelece:
O trabalho de educação ambiental deve ser considerado a fim de ajudar os alunos a construírem uma consciência global das questões relativas ao meio para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria.
 
            Partindo destes pressupostos, o presente trabalho teve objetivo esclarecer, conscientizar e ensinar alunos (crianças, jovens e adultos) das Escolas públicas e privadas do município de Passa e Fica – RN, localizado na Mesorregião do Agreste Potiguar, sobre a necessidade de preservação, conservação e manutenção do meio ambiente livre dos resíduos sólidos produzidos pela sociedade e posteriormente, adotar um sistema de coleta seletiva de quatro materiais recicláveis: Lata de alumínio, plástico, papel e vidro, como também buscar medidas adequadas e soluções para o lixo orgânico provenientes do resto de alimentos.
 
Fazendo e refletindo Educação Ambiental no município de Passa e Fica - RN
 
            O projeto foi realizado em duas etapas. Primeiramente, aconteceram à fase do planejamento, pesquisa bibliográfica, e reuniões com a equipe docente das escolas participantes. Ao longo das reuniões, aconteceram a elaboração do material informativo, visitas “in loco” ao lixão da cidade, capacitação dos professores, reavaliação das unidades didáticas, metodologias de trabalho dentro e fora da sala de aula, entre outras atividades.
            A capacitação dos professores ocorreu no período de 03 de março a 21 de abril de 2002, totalizando cinco encontros, com periodicidade quinzenal, aos domingos, com carga horária total de 20 horas-aulas (4 horas – conceitual e 16 horas – atividades práticas), onde foram realizadas palestras, gincanas, desenvolvimentos de atividades, que posteriormente seriam realizadas com os alunos.
            Na segunda etapa, aconteceram as atividades dentro e fora da sala de aula, foram trabalhadas por todo o corpo docente das escolas participantes e concentradas no período de três meses. Nesse período, foram realizadas visitas “in loco” ao depósito de lixo da cidade, onde os alunos e professores observaram a deposição dos resíduos sólidos e seus possíveis impactos ao ambiente local. Foram feitas também, visitas domiciliares com os alunos com o propósito de sensibilizar e divulgar o projeto através da distribuição de folhetos informativos sobre a importância da coleta seletiva e orientações à sociedade para separar corretamente os materiais recicláveis.
 
Resultados preliminares
 
            Ao término deste trabalho, evidenciaram-se comprometimento e mudanças de atitudes e comportamentos por parte dos alunos e do corpo docente, exemplos efetivos de cidadãos comprometidos com um ambiente saudável.
            É preciso ainda, que a sociedade reivindique junto ao poder público, responsável pela limpeza pública municipal, soluções que possam amenizar e/ou solucionar a problemática do lixo, através de projetos de Educação Ambiental, oficinas e cursos voltados para a capacitação e aperfeiçoamento na área.
            Ao fim dessas considerações, pode-se concluir que a formação da consciência ambiental de nossa juventude e o desenvolvimento do exercício de sua cidadania passa pela transformação da “escola informadora” em “escola formadora”. Esta será capaz de construir uma consciência ambiental efetiva. Este é o desafio que o início do século XXI coloca para a Escola enquanto “espaço” de exercício de cidadania.
 
Bibliografia
 
AB`SABER, Aziz. (Re)conceituando Educação Ambiental. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins, 2000.
BRANCO, Samuel Murgel. O Meio Ambiente em Debate. São Paulo: Moderna, 1998.
BRASIL/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: História/Geografia. Vol. 05. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente/Saúde. 1ª a 4ª séries. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL/SEF. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Nº 9.394 de 20/12/1996). Brasília: MEC/SEF, 1996. 
CASTROGIOVANNI, A. C. (org). Geografia em sala de aula - práticas e reflexões. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS/AGB, 2001.
CAVALCANTE, Márcio Balbino. Educação Ambiental: Uma alternativa para a sustentabilidade. In: IV Semana de Geo-História, 2002. Guarabira: CH/UEPB, 2002.
DIAS, G. F.  Educação Ambiental. Princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004. (Coleção Leitura)
IBGE – Censo Demográfico, 2000. Disponível em: <http//www/ibge.gov.br>. Acesso em 03/01/2002.
Revista Meio Ambiente Industrial. São Paulo: [s.e.], 2000.
SCARLATO, Francisco Capuano; PONTIN, Joel Arnaldo. Do Nicho ao Lixo. Ambiente, Sociedade e Educação. São Paulo: Atual, 1992.
_________________________________________
 
[1]Líquido escuro e ácido, que contém elevada concentração de metais pesados resultante do processo de decomposição do lixo, que infiltra no solo e acaba por alterar sua composição química, contaminando as águas superficiais e subterrâneas (SCARLATO; PONTIN, 1992, P.56).
 
¹ Trabalho apresentado no I Congresso Brasileiro de Extensão Universitária - I CBEU, João Pessoa/PB, 2002. 


Publicado por Profº Márcio Balbino Cavalcante às 03:08
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